sábado, 10 de maio de 2008

Era seu último dia. Acordou e foi ao banheiro. Assobiou canções preferidas, olhando no espelho amarelado, o rosto carregado de espuma. Barba feita, penteou o cabelo e pisou descalço na cozinha. Preparou café, abriu o jornal e lá estava, naquela foto que se achava feio, mas era a única que a imprensa dispunha a seu respeito. O prêmio pela sua cabeça havia dobrado. Achou exagero. Vestiu-se entre poucas e confortáveis escolhas. Tirou da gaveta os 100 reais que ainda restavam e decidiu viver bem por mais um dia. Por respeito ao aposento, deu duas voltas na fechadura e partiu. Abriu a portinhola do bar predileto e pediu o derradeiro prato: arroz, feijão, bife e salada. Palito nos dentes foi pro cinema. Assistiu a um bang-bang. Identificou-se com o coadjuvante que sofria secamente a perda do avô. Fim da sessão, sem pestanejar, parou na taberna para uma garrafa de conhaque. Bebeu sozinho. Cambaleante, a polícia o esperava na porta de casa. Abriu amigavelmente os braços, para melhor desfrute das balas da lei. Morreu sorrindo de uma vida bem aproveitada.

2 comentários:

Cecília Borges disse...

por isso que é importante optar por viver bem o que pode ser o último dia.
Bj, Breno.

coias que eu odeio disse...

Sempre leio os teus blogs, e recordo de como vc. adorava esvrever, mesmo que ninguém entendesse nada, mas era persistente e hoje eu desfuto de poder ler e compreender. Beijos