sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

TESTEMUNHO

Era hora do encontro com a verdade. Não podia mais fugir. Se subia ou descia pouco importava.
Encontrar uma saída , angariar fundos emocionais para olhar de frente o que acumulava em vida, era o que lhe bastava. No universo paralelo, vidas nunca se cruzam nem ao menos no infinito.
Jantar sobras de um banquete global não lhe eram migalhas, mas tutano necessário no amanhã incerto. A luta não era para um dia alcançar o senso comum, mas para que fosse íntimo do seu próprio sangue.
Fazer parte de um belo quadro social no qual a moldura tem valido mais do que a pintura o inquietava. Ouvira de um Goethe bêbado que nem sempre a melhor decisão é a mais pensada. Vai ver que o abismo foi criado como uma queda pra fora refletido em um trampolim voltado para dentro.
O diálogo de surdos ainda continuava sem voz, morreram todos, renasceu uma dor singela e verdadeira.
Viver não era tão complicado como lhe queriam fazer acreditar.

sábado, 8 de dezembro de 2007

O HOMEM E A MULHER

Viagem longa de ônibus, um homem e uma mulher, por coincidência , sentaram lado a lado. Roçavam seus joelhos em silêncio.
Na verdade, o joelho dele se inclinava ao dela que permanecia estático. Depois de um tempo, foi o cutuvelo dele que encostava na parte delgada da cintura dela . A cintura não era cúmplice dessa história, nem tampouco resistente ao movimento de um cutuvelo em forma de pincelada.
Tempo passa, o ombro dele enverga ao dela se abaixando para ficar na mesma altura. Sabia o homem, que ombros juntos se tocando são quase rostos se beijando.
Ele aprendera na escola que o movimento dos dedos era o que diferenciava o ser humano dos animais. O comando dos dedos é de total controle do seu dono. Portanto, para eximir a dúvida que pairava sobre as intenções da mulher, entrelaçou seus dedos no dedinho dela, como se ali, houvesse finalmente um recado dado, ou até mesmo um bilhete escrito.
O dedinho dela se mantinha impávido, como quem fora envolvido e está se acalentando ou um dedo em que a sensibilidade, a vida teria levado.
Descendo do ônibus, ele a foi levando enganchada em seus braços. Ela não abria a boca. Chegaram no apartamento dele. Havia cheiro de coisas estragadas, discos jogados pela sala, um gosto de ressaca impregnado nas paredes. O homem tirou a roupa dele e tirou também a dela. Deitou-a no sofá jogando as tralhas no chão. Ali eles fuderam. No máximo ela fazia “hum” gemendo sem emoção.
Ele perguntou se podia batê-la , a mulher não respondia, e o olhava num misto de decência e cansaço. Levada desde o começo, até no sexo, vontade e desejo não lhes pareciam importantes.
Ele gozou em sua barriga e caiu ao lado no chão.
Dormiram. Quando a mulher acordou, saiu de fininho, o suficiente para acordá-lo. Deixou um bilhete: não quero mais.
Pela janela do seu apartamento, o homem ainda a viu pedindo “fogo” ao jornaleiro, para logo em seguida cair no sumidouro da multidão. Fechou a cortina, certo de que intimidade é algo que se faz a distância.

sábado, 24 de novembro de 2007

Henry Sobel na revista

Para quem não viu a capa da revista Época desta semana aí vai:
“Errei, mas não sou ladrão.” Ao lado desta frase em destaque, seu formulador, Henry Sobel aparece aprumando a gravata com um olhar tenso , fixo a frente.
Henry, o rabino, foi preso há 8 meses atrás furtando gravatas em Miami sob a mira persecutória de câmeras escondidas em uma loja de departamento americana. Agora , veio a redenção.
A frase do rabino, admite algumas possibilidades. O ladrão é um ser contumaz em seu desvio e não um bom moço que um dia fracassou na tentativa de ceder a gravatas multicoloridas. Ao transformar ladrão em um ente objetivo, tanto Henry quanto a sociedade produzem uma “cara para o ladrão”, no qual as fraquezas de alguns viram erros e as de outros vagabundagem.
Aprumando a gravata, Henry reestabelece uma conexão com o objeto fálico que causou o erro, como quem já tivesse resolvido o drama não o escondendo ou como um antigo amor que após o sofrido término se transforma em grande amigo. Pura estratégia.
O Olhar azul tenso do rabino espelha cifrões. Sem a gravata e suas amarras, o rabino chegaria mais perto de deus. Sua religião não abre espaço para religiosidade.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Palavras Apenas...

Sem descanso
Moradora do primeiro andar de uma movimentada rua de ipanema e sua empregada começaram tossir e se sentiram sufocadas subitamente. Ao chegarem à janela, a constatação: policiais da operação Ipabacana jogavam spray de pimenta no rosto de crianças de rua. O produto de tão forte, alcançou os andares mais baixos. Ui!

A nota acima foi escrita por Anna Ramalho em sua coluna no JB de quinta-feira 15 de novembro/07.
Neste espaço farei uma análise crítica da nota e um retrato do movimento Ipabacana. A análise enviei para o email da autora e para a seção de cartas do JB.
O título "Sem Descanso", para a autora, reflete o estado da moradora de ipanema devido ao odor de pimenta inalado dentro de sua própria casa , e, também, em menor grau, por haver criancas ali em sua rua. Afinal, a rua é dela.
O aspecto central do texto é o odor que incomoda a moradora do apartamento. O rosto das crianças é só o obstáculo pecorrido pelo spray que mais leve do que ar sobe ao primeiro andar.
Portanto, o rosto da criança de rua é um mero objeto na construção do texto no qual o único sujeito é a moradora do apartamento.
Diferente seria se o texto ao invés de "crianças de rua" referir-se somente a "crianças" . Não tenho dúvidas que teor do texto seria de revolta contra o ato de jogar spray em seus rostos. Porém, como são crianças "de rua", este "de rua" acaba transformando o ato de jogar spray no rosto em mera adjacência no texto.
Ela finaliza a nota com Ui!
Ui, pelo odor, não Ui pela humilhação, pois para humilhação seria melhor um Porra!, sentida na pele de criança que sofrem por viverem na miséria.
Anna Ramalho, as palavras valem, as palavras sangram, tenha mais responsabilidade no que escreve em uma mídia impressa e lida pelo brasil afora.
Sobre a Operação Ipabacana, movimento para deixar o bairro mais bonito, mais "clean", métodos de tortura são usados e deve ser investigado por ser um movimento covarde que joga spray de pimenta no rosto de crianças de rua. Isto é inadmissível.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

HUMANITA$

Será que teremos outro tipo de humanidade em breve?
Uma humanidade calcada em outros valores, metamorfoseada pela tecnologia, em um novo homem.
Muitos estudam o futuro da humanidade. Suposições baseadas em teóricos temos aos montes.
Talvez o homem do futuro será um outro , aonde valores como amor e solidariedade não existirão mais. Um homem narcísico, engolidor do próprio gozo. Ninguém tem certeza do que virá.
Porém, qual é atualmente o único laço comum e irrestrito que existe entre toda a humanidade? E que diante deles há um consenso geral? O dinheiro.
Quando falamos em dinheiro tudo se entende, ou qualquer desentendimento por ele está inserido na seara do entendido.
Afinal é dinheiro e sem o mesmo não posso viver, nem comer... O Pacto global capitalista está aí . Como dizia Raulzito: "a arapuca está armada, onegócio é que os homens do mundo piraram , eles são carrascos e vítimas do próprio mecanismo que criaram".
Mães dizem ao filhos que precisam ter um espírito competitivo (sic), pois o mercado é cruel. O solo bem cuidado para que estas idéias floreçam, somente está bem arado pois o dinheiro justifica tudo. E confunde a própria noção do que é viver.
Nesta viagem psicodélica as pessoas vivem correndo atras dele, fazendo todas as doideras por ele, para que de posse do monte de grana possam enfim comprar as coisas que precisam para ser felizes.
O conforto do carro, da tv plasma, do chocolate mais caro, satisfaz por algumas horas, mas sempre volta.
Ao inves de emancipar-se, o jogo da dependência é reforçado e se carrega uma vida assim.
Ah! Mas eles são felizes assim!! Diriam muitos.
Acredito que a felicidade esteja vinculada a você se emancipar e se libertar dessa gira. Te dá um alivío quando não precisa da aceitação do Outro.
Lacan diz que "O desejo é o desejo do outro". Apreender isso é uma forma de superação, ao conhecermos nossas reais necessidades, vontades e liberdades.
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Huguito Chaves chama o presidente da espanha de fascista.
O Aznar é fascista mesmo, todo mundo sabe, só não se podia falar em público.
Sem conflito, as evidências ficam escamoteadas, reforçando a liderança do mais forte. Lembre de situações em que estava fragilizado(a) e que se fosse só no protocolo sua "voz" nunca ecoava, havendo a necessidade de certos imperatvos para se afirmar.
Chamar Aznar de Fascista é dizer como a europa lida com a imigração, é como tratam minorias como negros...
Huguito que é da periferia, desvela o que está abafado, literalmente quebrando o protocolo da reunião.Ufa!!

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

ZIZEK, NEGRA LUZ

Dividido com vocês brevemente meus estudos sobre Slavoj Zizek . Estudos para enveredar na tessitura do real e não para morrer dentro de mim. Estou admirado por suas idéias. Esloveno , sociólogo, filósofo e psicanalista lacaniano, Zizek é fortemente influenciado por Lacan,Marx e Hegel.
Autor de vários livros entre os quais "Eles não sabem o que fazem: o sublime objeto da ideologia", "O mais sublime dos histérico: Hegel com Lacan", "Um mapa da ideologia,"Bem vindo ao deserto do real", "Arriscando o impossível". Hoje é um do grandes nomes da filosofia social mundial.
Zizek ( acima dos Zs em seu nome, há um acento circunflexo ao contrário, acento de línguas eslavas, em que não há funcionalidade em meu teclado para tal chepeuzinho invertido ) aborda diferentes questões contemporâneas Por questão de espaço estarei desenvolvendo duas idéias do autor: a tolerância atual em mundo multicultural e o compromisso com a própria vida:

Tolerância:
Para o autor, em um mundo de opções aparentemente infinitas, as escolhas reais são mínimas. Tudo é permitido, pode se desfrutar de tudo, mas despojada da substância que o torna perigoso. Deste modo, tolerância significa deixe-me em paz, pois não quero ser incomodado por você.
O capitalismo global orquestra grandes contribuições financeiras humanitárias que é uma forma de manter a distância com quem sofre regulando-a através do dinheiro. O outro deve ser entendido como uma abstração, como se já estivesse morto. Ao invés de tolerância ao outro é mortificação ao outro. Abstraímos o outro em um caldo de cultura inodoro, num discurso de aparente respeito, para que a distância esteja mantida.
O discurso ocidental também determina o que deve ser tolerado. Assim fundamentalismo –islâmico é intolerante pois não está no cânone dos direitos universais ocidentais. Por que nós é que determinamos o que deva ser tolerado? Desta forma o budismo, maoismo já foi apreendido pelo capitalismo global enquanto o islamismo é o único foco que se opõe a ética capitalista.

Compromisso com a própria vida:
O modo de vida de grande parte da sociedade atual tem a idéia de que a vida não tem sentido último e a única meta acaba sendo a felicidade pessoal. Assim, o valor mais elevado seria continuar a própria vida. Em uma atitude pequena de sobrevivente.
Portando se diz falsamente que vivemos hoje uma sociedade de risco porém os riscos que as pessoas têm são riscos passivos e não ativos. E vão prolongando a vida até a morte..
Para o autor, há de se ter coragem de assumir riscos, pois a a vida não é meramente vida, é sempre acompanhada por um certo excesso ou por algo pelo qual as pessoas podem arriscar a própria vida. Assim o autor defende que hoje temos que reabilitar mais do que nunca termos como "eternidade", "decisão", "coragem"e heroísmo".
Como nos lembra Zizek baseado em Hegel o espírito é sempre um esqueleto" e não podemos assim separar a mais íntima experiência física de suas dimensões trancedentais. Adentrar este real é arriscar o impossível.
Para desenvolver algum aspecto do texto, envie uma mensagem que farei com todo prazer para o email do interessado.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Marcelinho da mamãe

Lourdes, é uma empregadinha da Penha. Safadinha, pega o trem lotado para ser esfregada por homens de pouco apuro. Trabalha de sainha rosa e quando é coxada dá a sensação para o homem, de quê levitou o bumbum para ser chegada com mais facilidade. Batons vermelhos bem torneados produzem uma boca maior que a natural . Maior e mais sensual.
Lourdes não gosta de trabalhar. Arruma as bagunças de uma senhora velha pelo centro e volta fogosa para casa em um ônibus lotado que a esmaga, matando de prazer.

Marcelo, é um executivo do mercado financeiro da Barra, que trabalha com papéis e tem o discurso afinado com o que é chamado de "modernidade". Marcelo tem o maior respeito dos porteiros, pois sempre sai alinhado, tem uma voz calma e baixa , em uma frequência suave de quem é certamente "bem educado." Marcelo vê a família da noiva todo final de semana, tem um filho com a cara do pai e não poupa esforços pra agraciar o lindo bebê.
Marcelo um dia teve um caso com Lurdinha.
Lurdinha dedurou Marcelo para a esposa e o casamento de anos terminou.

Acima foi escrita uma estória mal contada de uma forma brasileira truísta, socialmente aceita.
Qualquer estória tem milhares de formas contadas . A representação do real não é única. Isso não impede crítica.
Tropa de Elite, TV Globo e outras mídias contam estórias de uma forma específica.
Especificamente, por quem tem o poder, a instituição ou a grana do seu lado. O som reverbera. O fraco emudece.
Lurdinha não existe. Ou existe da forma chapada acima.
Falo Lurdinha, em nome de assaltantes, puta de rua, mendigos...

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Carteirinha do Real é Vitalícia

Hoje cancelei minha inscrição no real. Estou devolvendo minha carteirinha . Para quem ficou , boa condenação.
Agora eu posso tudo, suspenso , tudinho posso. Me enxergar , ser o corpo do outro, e sendo o corpo do outro chego no coração do outro. A consciência do absurdo , o cheiro inodoro. Assim me integro, sem me despedaçar.
Se meu corpo não é meu , o meu corpo é seu e é de todos, e não sou mais eu, posso ser todos. Meu corpo é o seu, meu jeito de andar é o seu. Seu sorriso é o meu.

Se a estória acima for mentira, deverei continuar no real e chegar até o outro pelo caminho das trevas, enigmático, cheio de ratos e baratas entrando pelos poros.
Alcançando o outro depois desta batalha sugadora, imponho minha superação sobre a morte.
Refém da harmonia da alma, imporemos nossas armas: sexo, amor e amizade.
Quanto mais vivo e belo , o gozo relaxa , amamos a inutilidade do outro, chegamos mais perto de Deus. Não ser a mosca de kafka ajuda a se libertar. O trabalho opressor castra as potencialidades.
Vida compromissada com o amor ao outro e consigo mesmo , atuando para justiça social, delirando com as artes e obrar com técnica, empurrando a preguiça de lado .
O lance é não morrer em vida.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Números que Ardem

Timidamente os veiculos de imprensa noticiaram esta semana os dados consolidados do IBGE sobre desigualdade social do Brasil. Comparando de 1996 para 2006 os números mudaram muito pouco.
Os números são assustadores. A renda média per capita familiar dos 40% mais pobres é de 147 reais.
Traduzindo o economês, cada pessoa apta para trabalhar ( o IBGE exclui pessoas menores de 11 anos) dentre os 40% mais pobre do Brasil recebe em média 147 reais por mês.
A renda média per capita familiar do 1% mais rico é de 7.400 reais. A renda média per capita familiar dos 20 % mais rico é de 2.500 reais.
A desigualdade é abissal , mas o que mais incomoda é que a grande maioria da População brasileira é pobre.
Esses números são quentinhos, sairam esta semana direto do inferno. Talvez todos intuam isso andando pelas ruas. Nascemos num país pobre, com a eterna esperança de que um dia tudo vai mudar.
O que salva muitas pessoas é a rede de proteção social que temos de modo informal que faz o papel de estado. É a esmola, o resto de comida, o mercado informal fazendo uma função divina. As vezes sinto-me próximo de Deus comprando um cd pirata.
Responsabilidade é de todos, não somente do governo. Perdurar o status quo é a defesa da elite brasileira.Temos micareta, somos alegres (sic), mas temos uma elite famosa muldialmente pela breguice dos costumes consumistas, gozadoras de paus europeus e americanos .
Açoes do governo como forte tributação progressiva ( paga mais quem ganha mais), tributar herança e gerar um movimento de comunicação de massa de que não está bem para alguém não está bem para ninguém.
Corrupção em parte é resultado da pobreza. Temos que divulgar mais este mote, "Se poder gera corrupção miséria também gera." O mote" o poder corrompe " já pegou a muto tempo. Só poderoso tem justificativa para cometer delito. Isto também é injusto.

domingo, 30 de setembro de 2007

Ideologia Européia

Um filme muito aclamado no Festival do Rio é o documentário "Mulheres Sem Piedade".
Fui assistir ao filme seguido por um debate com o diretor alemão Lukas Roegler.
O documentário trata do tráfico de mulheres nigerianas, de uma cidade chamada Benin, migrantes a carreira de puta na Espanha, Alemanha e principalmente Itália.
É retratada paralelamente a vida de quatro dessas mulheres. Motivadas pela possibilidade de ascensão social, decidem, ou são jogadas para o caminho tortuoso do tráfico humano. Na Europa estão as agenciadoras chamadas de "madames", similares as cafetinas brasileiras. São mulheres nigerianas operando a conexão diretamente da europa para que a imigração ilegal funcione. As garotas passam por condições subumanas durante o percurso migratório e muitas morrem no caminho. 2 anos é o tempo da atravessia até a europa.
A religião "ogum" africana cria um pacto de julgamento nesta conexão em que as garotas fazem uma profissão de fé para que o negócio se realize. O preço desta profissão são as condições que as madames impõem as garotas, criando-se um laço de dependência financeira, territorial e de legalidade que vai torturando as garotas de modo cruel.
Posto os fatos do documentário na mesa, começou o debate com Grabiela Duarte da Daspu ( associação das putas) e Lúcia da Ong Criolla , o Diretor, e um tradutor para o alemão . Gabriela comentou sobre a diferença entre prostituição e tráfico, que a primeira é uma profissão cada vez mais regulamentada e que a segunda, a que pesa na balança, deve ser investigada.
A platéia foi comentando sobre aspectos técnicos do filme com o diretor, até que chegou, minha vez de falar. Apesar de tentar não me auto-centrar, coloco aqui literalmente minha posição pois é o meu país e o sul do mundo que está em jogo:
- Tô cansado destes documentários disseminadores da ideologia européia. De um lado a curiosidade antropológia sobre um povo da áfrica, sobre sua pobreza, religião obscura, povo corrupto e com perversidade ( termo citado duas vezes na película).
Enquanto que a outra parte da moeda, a europa no caso, que tem o dinheiro, a freira ( em uma parte do filme, uma freira italiana condena a religião africana pelas barbaridades), a corrupção dentro da legalidade, apoiado em uma estrutura que dá guarida ao movimento do tráfico humano, nada é dito sobre isso, colocando a responsabilidade total no lado fraco da balança.
_ Ele, como todo europeu, respondeu objetivamente, que não é uma ideologia européia, o filme se atentou basicamente aos fatos das quatro mulheres e quis contar a história delas.
- Respondi que a história foi contada pela metade, somente do lado da oferta (mão de obra) e não da demanda (consumidores) e aí se delineia em cores vivas a ideologia, cabendo a nós agora como terceiro-mundistas retratados desta forma caricata se explicar e como dizia o falecido João Saldanha "quem se explica já sai perdendo."
Como não poderia ser diferente, a frase brasileiríssima do João se perdeu na tradução para o alemão, mas o que vale de tudo isso é a atenção que devemos ter com a aparência de inocente objetividade anglo saxã. Fazer um documentário tem escolhas, recortes,
um sujeito ali em expressão.
A ideologia européia não mata galinha como o obscurantismo africano, mas impõe ao terceiro-mundo sutilmente e através de mecanismos legitimadores como um documentário, a idéia de que somos "coitadinhos" precisando subservientemente dos falsos saberes ensinados pelo próprio algoz.

sábado, 22 de setembro de 2007

O Romance Querô e o Filme Querô

Uma vez que é baseado na obra de Plínio Marcos, o filme apresenta diferenças em relação a obra original. Diferenças a parte, restrinjo minha análise no que as duas possuem em comum.
O olhar a partir do referencial Querô, personagem principal, é oposto as produções culturais que normalmente colocam o excluído numa posição de objeto e não de sujeito.
Porém o que o torna única mesmo em relação a outra obras que roteirizam a partir do excluído, é que não se imputa uma áura moral no garoto em busca da superação.
Taí a ruptura do Plínio com o discurso burguês de salvação da humanidade. O menino não tem expectativa, é resultado de como nasceu e o efeito é determinado por tais causas, sem colocar no garoto possibilidades nobres que apaziguem a alma do público.
Outro ponto importante tanto na obra original quanto na adaptação do filme é a densidade orgânica dos personagens. O mestre Plínio para fazer diálogo injetados de concretude põe qualquer um no chinelo. As palavras addquirem forças de expressão tendo o peso de quem conhece visceralmente a dor e as mazelas de um povo na qual o sofrimento animal é a tônica da vida.
Passaram –se 31 anos que esta obra original foi escrita, Querôs e mais Querôs crescem e morrem num piscar de olhos diante de um olhar dominante que massacra meninos com o discurso “não dá o peixe, ensina pescar”.
Sem vara e anzol, pescar vira discurso vazio.
Fenomenal Obra-Prima de humanidade, conscientizando e atentando-nos das armadilhas estético-sociais montadas pelos poderosos.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Profeta do Amor

No dia 17 de dezembro de 1961 ocorreu um gigantesco incêndio no Circo Norte-americano em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, matando cerca de 500 pessoas. Tal fato, como nos tempos bíblicos, serviu de estopim para o surgimento de um profeta, o Profeta Gentileza que ,se vivo fosse, estaria com 90 anos.
José Datrino era seu nome, caminhoneiro do bairro Guadalupe no Rio de Janeiro. Seis dias após, véspera do Natal, por volta da 13 horas, enquanto descarregava um caminhão, confessou ter ouvido por três vezes uma mensagem divina: deveria abandonar os três caminhões, casa, terrenos e família e ir logo para ao local do incêndio "para ser o consolador de todos os que perderam seus entes queridos". Tomou um dos caminhões, carregou-o com duas pipas de vinho de cem litros e foi a Niterói para cumprir sua missão.
Distribuiu vinho em copinhos de plástico para os familiares e amigos dos entes queridos.Passa a vestir-se com uma bata branca cheia de apliques, com um bastão, um longo estandarte com suas mensagens, encimado por flores para lembrar o jardim do Éden e cata-ventos para arejar as mentes, como dizia. Instalou-se no local do incêndio, aplainou-o, transformando-o num jardim florido. Dormia no caminhão. Por quatro anos consolou a todos que iam ao local chorar de seus mortos dizendo-lhes: "o corpo está morto mas o espírito deles está em Deus".
Depois de quatro anos, percorreu o país, o nordeste e o norte, pregando seus motes "Gentileza" e "Agradecido".

Sua mensagem era de que as pessoas falassem "por gentileza" e não "por favor" e que dissessem "agradecido" em vez de "muito obrigado". A mudança, explica o profeta, é porque ninguém é obrigado a nada e devemos ser gentis uns com os outros, além de nos relacionar por amor e não por favor.
Como todo profeta, Gentileza denuncia e anuncia. Denuncia este mundo, regido "pelo capeta capital que vende tudo e destrói tudo". Um refrão sempre volta, especialmente nas 56 pilastras com inscrições na entrada da rodoviária Novo Rio no Caju: "Gentileza gera gentileza, amor". Anuncia um antídoto à brutalidade de nosso sistema de relações principalmente nas grandes cidades.
Interessante é a sutileza pelo posicionamento que não era escapista e nem tampouco um amor ursinho-pimpão do tipo meus amiguinhos e família são tudo , o resto que se dane. Foram decisões tomadas no "real" baseado na ética da alteridade e não na individualidade.
Desejos, caminhos, forças internas são indivuduais e imanentes a cada ser humano, mas pessoas com essa iluminação são importantes serem lembradas para que ressaltemos em nosso ser a escolha pelo amor ao outro e não pelo ódio. E como dito pelo Velho Sartre "os dois estão dentro da gente, cada um escolhe o seu e deve ser responsável por isso".
Aos que o chamavam de louco, ele respondia: - "Sou maluco para te amar"

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Renan Caralheiros, ops, Calheiros

Antes da tristeza, o sentimento depositado na alma das pessoas é de raiva. O Renan Caralheiros foi absolvido.

Como processa a mente do Renan? Não sou psicólogo, nem tampouco psicanalista mas inclino-me a dizer que ele não sabe mais quem é. Entrou na "gira" do levar vantagem, descolou do seu eu e agora perpetuar-se no poder é o único movimento que faz sentido em sua vida. Que pena de você Renan! Quem sofre mais no íntimo com essas energias negativas baseada em buscas vazias é você e não o povo, meu caro. Disso, eu tenho certeza, mesmo que você não saiba!
As soluções só se resolvem na "práxis". Somente o povo se rebelando , se unindo em movimentos populares poderão ser contraponto ou melhor o escudo para nos defendermos dessa palhaçada.
Apesar de estarmos desesperançados ainda existem muitas pessoas sonhando um mundo melhor e só a união pode ser o mecanismo de resistência.

E o PT? Mercadante e Ideli Salvatti na defesa do Renan. Defenderam com unhas e dentes a permanência de um ladrão no governo. O Mercadante foi meu professor e nunca nos enganou com seu projeto de poder, pelo poder desde sempre. Sempre soube que ele era um vendido. Mas como ele sempre foi bom para torturar os números e usá-los ao seu interesse, até que convencia no economês.

Amamos o país e dele fazemos nossa morada. Pessoas como Renan Calheiros sujam nossa história coalhada de pessoas que nos trouxeram energia de vida, bondade e amor ao próximo.

Trocaria milhões de Renans ,dando de lambuja ACMs, Sarneys, Lulas que envergonham nosso país, por um Profeta Gentileza "cagando pro poder". Nesse lance , felizmente, eu não teria com quem jogar.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Do Lodo nasce Lírio

No Centro de São Paulo, próximo a pinacoteca Bendito Calixto, especificamente na Rua General Osório, em sua parte conhecida como "Cracolândia" (Ex-redutos dos usuários de crack) rola todo o sábado uma roda de samba de gente bamba da rua. Roda na rua, público bem diversificado. Tem o mendigo, o pobre e o classe média, curtindo , cantando e dançando músicas clássicas de samba e de partido alto.
Sobre partido alto, este genêro disseminado por Mestre Candeia, a criatividade dá o tom. Como no repente nordestino, malandro tem que versar em cima da melodia que é o pano de fundo para a rima se fazer. O criativo, que capta o momento e o faz realidade, versa em cima do verso de outro partideiro e como num duelo as avessas, impulsos de amor são cantados e rimados por diferentes formas.
Momento mágico de todos cantando juntos algum samba bonito , comovido pelo samba, sem mediações de classe econômica e raça que permeiam nossa sociedade brasileira.
Sei que no ultimo sábado do mês a rua fecha e o couro come. Isso é música popular brasileira.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Carta ao Excelentíssimo Governador do Estado do Rio de janeiro

Prezado Sr.,

Tenho conversado com moradores das favelas do Rio. Sei que você está comandando uma chacina surda. O caveirão- símbolo de morte e de potência de tristeza - é uma das ferramentas usadas para comandar o genocídio.
Você não é o filho do Sérgio Cabral? O Sérgio não é aquele amigo de todos, homem da boa piada e com o conhecimento riquíssuimo de nossa história musical. Quantos Imael Silvas você pode estar assasssinando caro Presidente?
Surpreendo-me com sua cara de bunda mole. Ah! isso você nao consegue trair . Sua cara é de bunda mole e sempre será.
Onde estão os órgãos de imprensa e os artistas para denunciar essa covardia extrema usada pela força das armas ? E sai matando. Se matou 15 , diz que é 7 e vai matando. Afinal números não têm alma. Vítimas mortas são abafadas; no mínimo são pobres e não conseguem fazer alarde. Onde estão as ONGs para contrapor pelo menos com a palavra essa crueldade que a polícia abusa em seu direito de exercer o monopólio da violência.
Se querem ver resultados disso? Para mim já são podres, mas vá lá e com nojo se conclui que é a massa pobre, que berra na geral mas nunca influi no resultado, que é exterminada sem dó.
O que isso muda na sociedade? Aquele avião que entrega a droga e que rouba o som do seu carro, agora está morto. Enquanto isso milhões estão nascendo com o mesmo destino traçado, na qual o governador e a sociedade cansada de pegar aviao atrasado tem repugnação e declara que todos devem ser mortos. Cansei dos jantares do mauricinho João Dória, cansei de ver a Regina Duarte cansada de tudo.
Sonhe com os anjos Governador de merda.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Conto sobre Felicidade

O Nome dela era Berenice. Nunca mais a esqueci. Não pelo nome, que até engraçadinho achava.
Mas ...como vou dizer... pela bunda.
Não exatamente a bunda, mas pela relação que Berê tinha com o seu bumbum.
Quando pequena, Berê era muito feliz. Adorava brincar de casinha. Sua diversão era mexer com panelinhas, bulezinhos e outros apetrechos que criança diverte se sentindo adulta.
Quando adulta, Berê começou a trabalhar de garçonete e era feliz no seu emprego. Porém, algo a incomodava.
O que para as mulheres que têm, é motivo de orgulho, para Berenice era sofrimento.
Berê tinha ciúmes de sua própria bunda.
Não que fosse feia de rosto, isso definitivamente não era. Era mais um rosto normal na multidão.
A bunda de Berê para ser descrita com rigor exigiria muitas páginas do leitor para imaginar o que era aquilo. Resumindo neste pequeno conto - Berê tinha um bundão!
Enquanto aquela forma ia se arredondando, até que ela gostava. Era o começo da adolescência e esse algo a mais fazia a diferença nas primeiras paqueras.
Porém o negócio foi tomando um vulto que não tinha mais nada para ninguém. Ou melhor, não tinha mais nada para Berê.
Berê e sua Bunda começaram a ser uma coisa só. Sua identidade se confundia com seu proprio bumbum. Isso foi lhe incomodando. O que era motivo de orgulho, começou a ser disputa. A bunda virou sua rival.
Nada mais lhe chateava do que homem caminhando junto a Berê, esperando ela ir um pouco à frente para ver sua bunda melhor.
Triste mesmo para Berenice, foi um dia voltando do trabalho, ouvir uma conversa ao atravessar a rua : Olha a bunda que trabalha no restaurante da Tininha!
Isso foi a morte. Berê teve uma solução definitiva. Fez uma operação plástica de nome estranho: "Retiradas Carnes Glúteas."
Ninguém entendeu. Berê voltou a ser feliz!!

sábado, 28 de julho de 2007

Santos

Quando sinto, escrevo mais fácil. Falar de Santos é moleza. Poucos sabem, mas Santos é uma ilha. Ilha de São Vicente. Porto + Caiçara + Portuga + Quilombola foi a mistura dada . O caldo que deu, tem gosto forte. Não é para qualquer paladar.
Alguns dias de Santos são suficientes para captar seu borogodó. Chuva fina molhando a extensa e batida faixa de areia. Na praia santista, o futebol de quem é ruim logo aparece. Lá, a fina flor de craques desfila mais pelo ataque. O terreno ajuda o drible. Para o tamanho da cidade, 3 gloriosos times de futebol são uma bela façanha.

Andando pela cidade, o canal é a bússola. São sete canais, esta obra fantástica do sanitarista Saturnino de Brito, que cruzam a praia e distam entre si em 1km aproximadamente. Uma rara cidade plana que facilita a locomoção, a pé e principalmente de bicicleta. Fora isso, existem alguns morros que gravitam entorno da planície.
Pelos lados da praia, existe um jardim frontal a ela, que está no premiado Guiness Book, pois acompanha os 7km da orla. Porém, o importante sempre foi sua beleza e harmonia.

Aqui em Santos, o pronome “tu”, em sua oralidade popular não concorda com o verbo que fica na terceira do singular. Ao se ouvir tal construção gramatical em São Paulo já sabe que tem santista no pedaço. Falando nisso, é normalmente longe de Santos que percebe uma forte unidade espiritual de santistas quando se esbarram. Apostaria suas razões calcadas na jovialidade das pessoas ( característica da praia) com a essência de cada um vomitando o que é(contraponto com as cidades grandes em que há o gosto médio de ser blasé).

Cidade antiga que ainda vive do seu passado. Zona portuária, comércio e pesca fazendo a diferença. A prostituição associada aos negócios levou Santos ao título nos fins dos 80 de Capital Brasileira da Aids. Durante muitos anos, a cidade foi somente lembrada por isso. Para os santistas, o título não era homenagem , mas sabíamos os motivos e isso não dasabonava nem um pouco. Pelo contrário o amor só aumentava.

Outra provocação recebida é de que o mar de Santos é feio pois é escuro. Bonito seria somente do litoral norte Além disso, a areia não é branquinha. Pobres criaturas. Foram acostumadas a assistir ao cinemão americano. Quando vêem um bom filme cubano não vão gostar . E se exigem isso , aqui do lado tem o Guarú (Guarujá pros íntimos) que faz parte da Baixada Santista -Cubatão, Guarujá ,Santos e São Vicente.

As cidades de nossas vidas têm um papel importante na personalidade e fico feliz de ser de Santos pelo que essa cidade chuvosa, progressista, praiana, esportista, portuária, de altos índices de droga e prostituição me deu como ser humano. Afinal como dizia o saudoso Plínio Marcos: “ Sou o que sou, porque sou da baixada , meu Lorde”.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Forma forma Conteúdo.

No caminho pela manhã até o metrô, idéias pululavam minha mente.
Estava naquele dia de pegar palavras e virá-las, retorcê-las, cortá-las, esmiuçá-las, para que assim, revelassem meu sentimento . Difícil traduzir sentimentos em palavras.
Com o verso mais ou menos elaborado fui escrevê-lo no celular para guardá-lo.
Não é que o ato de teclar letra à letra , se somando e formando o todo da palavra ia sinalizando musicalidade , desenho, composição e portanto o conteúdo fora se transformando. Ia alterando as palavras previamente estabelecidas...
A interface entre o que sentia e elaborava em palavras, com a forma de expressá-la através do processo letra à letra pelo celular apresentou novas possibilidades e caminhos na tradução deste sentimento.
Fiquei profundamente feliz, ao ter uma prova empírica, de que as palavras escolhidas dependiam da interface usada.
Não posso terminar sem apresentar o que resultou dessa viagem naquela manhã. Acho que foi uma tradução se não a melhor, mas fiel ao que sentia.
"No caminho da vida, me encontro, me acho, me perco, esmoreço, de lado, aconteço"

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Extensão de Casa

Para mim, boteco, botequim, pé sujo, são aqueles que você pode ficar à vontade como na sua casa. Fui na padaria/bar/butequim Viriato ali na Tavares Bastos no bico, meio catete, meio largo do machado e laranjeiras. Igual à ele existem inúmeros neste Brasil varonil.
Os balconistas têm intimidade com o freguês. Não é aquela intimidade de garçom que trata bem para quem dá o 10% mais gordo. É a intimidade de quem se relaciona com beijo, abraço, brinca, sacaneia e o que comunga tais carinhos não é o dinheiro mas o sentimento de estar em família.
Cerveja nestes lugares, só pode ser de garrafa que junto do copo americano é a democracia dividida e brindada do momento. Tem mulher sozinha no balcão tomando cerveja e fumando cigarro. Engraçado que as mulheres em geral ainda possuem restrições a este comportamento. Será que estas frequentadoras solitárias do butequim por prazer. de um bom papo e uma cerveja gelada no meio da tarde não sejam as verdadeiras conquistadoras da liberdade feminina?
Chega um cara que vende ferramenta na rua e pede água. O "torneiral" rola sem stress e o transeunte também sente-se como um cliente da casa. Se isso rola em um pé sujo da moda (argh!! nada mais artificial do que querer parecer o que não é), o pedido de água é rechaçado veementemente indo embora toda a pseudo democracia.
O balconista joga e acerta a chapinha da garrafa antartica dentro do copo cheio do cliente. Sentimento familiar maior do que isso é difícil.
Quem gosta deste tipo de bar, jogar conversa fora, sacar a dinâmica que rola, sem ter mediações do capital na decisão dos empregados e do dono, é gente boa da boemia da alma, do samba, do futebol, e amante do espírito público e familiar no sentido família -amor e não família-moral.
A Maria Gladys, atriz do cinema marginal, relatou em uma entrevista que o fim da boemia leva junto os grande sonhos gregários de um mundo melhor.
Vai um salaminho, e uma cerveja gelada dividida entre o assalariado e o biscateiro?

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Cada um faz o que pode

Falar de Paulo Vanzollini não é tarefa fácil.
Magnífico compositor de samba , boêmio, zoólogo de reconhecimento mundial especializado em anfíbio, Paulo é um daqueles terráqueos que vieram ao planeta para deixá-lo melhor. Vai fazer o quê, cada um faz o que pode.
Avesso à mídia não por timidez mas por convicção, fotografado normalmente com o inseparável cachimbo, é o tipo boêmio em extinção que toca direto na alma através de suas músicas ou de longos papos sobre mulheres, amazônia , cobra...

Compositor sem rima e metáfora, da sua forma objetiva a dor sangra, o choro é triste e a alegria genuína.

Seguem abaixo algumas deliciosas passsagens de seus sambas :
"Já me acostumei com dia-a- dia ao invés de vida inteira" ( homem amargurado)
"Inveja é moeda que o mundo tem para pagar o bem"
"Vida comprida e vazia, dias e noites iguais, morte é paz"
"mulher que não ri , não precisa dente"
"Maria é boa mulata, me faz boa companhia, mas não ata nem desata, nunca sai dessa agonia, não parece ser mulata, nem parece ser maria"
"Jantou e saiu satisfeito, antes da meia-noite tomou um tiro no peito"
"Já me acostumei, já não ligo, até exibo certa naturalidade, posso lhe dizer com a cara limpa enquanto minto" (homem urbano, aceitando ser falso)
"Tanto tempo eu não vejo você, a própria maledicência esqueceu de nós" ( ex-casal depois de um tempo longe)
"Você se pensa em mim, não deixa ver"
"É que eu paro ao seu lado e nós trocamos, vidas perdidas por horas roubadas"
"Na praça clóvis minha carteira foi batida, tinha 25 cruzeiros e o seu retrato , 25 francamente achei barato pra livrar do meu atraso de vida"
"Orgulho eu não tenho, mas sou homem demais para 50%" (resposta à mulher que não quer ficar inteira com ele)
"No ultima dia da vida, encontrei-me com meus pecados, uns maiores outros menores, mas no geral bem pesados, do outro lado somente a ingratidão que sofri, o anjo pôs na balança e vestido de branco eu subi"
"Parece que vai tudo em santa paz na base do mais ou menos , muito mais menos do que mais"( sobre relacionamento amoroso que não dá samba)
"Levanta sacode a poeira e dá volta por cima"

Fernando Pessoa chamou de "poesia ajudada" o que a música possibilita à letra. Para quem não ouviu, as letras de Vanzollini acompanhadas por sambas belíssimos são o contraponto à música atual, feita para não emocionar.
Ele tem 83 anos alguns cds e vinis gravados por outros intérpretes e um gravado pelo próprio. Diferente das dicas "Pessoal, vale a pena conferir", isso aqui é matéria obrigatória no curso da vida.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Paraíso dos Sebos

Tenho por princípio fazer "viagens maravilhosas" dentro dos Sebos. São Paulo e Rio são verdadeiros recantos deste mundo à parte.
Entrar em um sebo é diferente de uma livraria. No sebo, a racionalidade webberiana não impera. Há, ainda hoje, uma manualização na organização interna dos sebos. O preço é um achado dentro da capa que pode esquecido de ser atualizado, os livros podem estar fora de ordem e o atendente pode ser um apaixonado por livros e um péssimo prestador de serviços.
Meu velho amigo Tiago, argutamente, sempre questiona as duvidosas vantagens do mundo "prático" contemporãneo.
"Migalhas sinceras me interessam" já dizia Cazuza. O sebo não está dentro da lógica shumpeteriana de dinamização da economia pela "destruição Criativa" (destruir o passado para gerar o novo). Pelo contrário, o sebo tem seu giro na possibilidade de troca e não no descarte e produção do novo.
Lá podem ser achados livros raros a preços módicos. Porém, para quem tem problema com pó ( o legal, claro) sebo não é uma boa pedida.
Muitas vezes, durante o percurso por um livro específico , escorrega da prateleira um outro que não estava no script, e que se tranforma no herói do dia.
Capítulo à parte, são as anotações que os ex-leitores fazem. É uma delícia ver sublinhados partes que você não foi tocado ou ser tocado pela mesma passagem do antigo leitor. São idéias, pensamentos pessoais que enriquecem ainda mais o texto original. Livro é para usar e não para guardar e uma boa experiência de sacar como cada um vê o mundo.
Lembro-me de especialmente um livro do autor americano Storr ( nunca mais esqueci esse nome) fez sobre a teoria yungiana. A leitora , não sei porquê sismei que ela fosse leitora e não leitor (talvez pela letra e "pegada"na escrita) não aguentava o que Storr escrevia e lá pela metade do livro, entre um capítulo e outro, faz um cômico desabafo do mau que Storr estava lhe causando .
José Luiz Borges uma vez escreveu que sonha o paraíso como uma espécie de livraria.
Já o meu paraíso, caro Borges, é uma espécie de sebo. E como o paraíso é um lugar para idealizarmos mesmo , que tal colocar a amada pelada no meio dos livros.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Pelo Direito de ter medo

Sexta-feira à noite , depois de uma bucólica volta de bike pelo aterro, com direito a parada para assistir à um filme no MAM, chego no prédio e deparo- me com um homem seguido pelo seu cachorro, sem a coleira. Estou eu atrás destas duas cândidas criaturas.
Elevador parado no térreo, o homem gentilmente abre a porta para eu entrar. Respondo:
Pode ir que depois eu vou.
Ele faz um aceno com a mão indicando minha entrada .
Adentro o pequeno espaço, segurando a bicicleta na vertical e o cara com o dedo posicionado no botão luminoso, me pergunta:
Qual é o andar?
Respondo que é o nono
O cachorro vira o rosto e dá uma sacada em mim. Me afasto vagarosamente lembrando daquele paradoxo tragi-cômigo "Se mostrar que tá com medo, o cachorro percebe".
O dono, como um pai sisudo, fala ao filho:
- Cóóóóbi!
Conto a ele sobre um fato recente que aconteceu no prédio - uma senhora foi mordida por um cachorro.
Ele responde:
Se acha que ele mordesse, ficaria sem coleira?
E prossegue:
Se tem alguém que pode morder sou eu ( frase pronta que já deve ter repetido outras vezes)
Chega seu andar e ele vai saindo enquanto eu falo:
Prioridade é para as pessoas.
Ele me fita com "cara de merda" fechando o elevador mais brusco que o usual.
Ele é um pesonagem que vejo a boçalidade do seu ato, do seu gestual, do seu tipo, incorporado ao reino literário. Ao apreendê-lo como tal ,diminuo o incômodo que sempre tive com a estirpe dos pobres de espírito.
O importante que fica, não é o personagem, mas a situação descrita reflexo do que rola por aí .
Advogo simplesmente pelo direito de ter medo e portanto ser respeitado por esse direito.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Querer Não É Poder

Quarta-feira foi o primeiro jogo final da Libertadores - Boca x Grêmio - em Buenos Aires.
Os jogos na Argentina possuem a sistemática interessante do "time da casa" colocar o oponente no "corner" . Digo Argentina, pois é uma característica manifestada pela cultura do país.
Time brasileiro, com o mando de campo, cria "estratégias"de sufocar o adversário usando o estádio a favor, porém nem de longe alcança um efeito similar ao argentino. É questão de cultura e não de vontade.
Na Bombonera (estádio do Boca) , caixas de som amplificam o barulho da torcida, de modo que o time em campo não consegue ao menos se comunicar. A Torcida joga milhares de papel picado (como nunca vi em outro país) e a cor da bola é da mesma cor dos papéis o que gera mais confusão.
O cenário criado é quase sempre de um delírio, um transe que o time adversário sofre e quando retorna à realidade já está no vestiário derrotado.
Enquanto isso nossos sábios comentaristas esportivos ficam presos às questões técnicas , assumindo essa variável como determinante para o resultado da partida. Ou dizem baboseiras como "que se lá é assim , também podemos ser, pois somos amantes do futebol blá blá blá..."
Esquecem que o nosso país desportista, diferente dos muchachos vizinhos, tem a cultura políticamente correta do "fair play". Dieguito e o alma branca Pelé são os símbolos máximos deste antagonismo.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Dialética da Vida

O sábio Hélio Pellegrino (marxista, médico, poeta, apaixonado, psicanalista) escreveu em vida o texto abaixo, que interferi um pouco para torná-lo mais compreensivo.
É de saborear as palavras e o sentido que o autor dá à vida quando fala da morte:

"Viver é , em última análise, lutar contra a morte.
A morte nos trabalha, na mais íntima espessura do nosso ser, no silêncio absoluto, a pulsar dia e noite sua ausência infinita.
Integrar a morte na vida implica proferir a palavra - ou construir o gesto - que se contraponha a esse silêncio altíssimo do mistério da morte, de modo a representá-lo, através da decisão de existir.
Quem vive modula - tenta dar forma - a esse silêncio absoluto, procura criar referências, relativas e finitas, que lhe sirvam de significante."

Amigas(os)*, que olhar cabal sobre nossas vidas!!

*A convenção pede Amigos(as), mas que tal começarmos a inverter como na forma acima valorizando ainda mais o espaço feminino a ser conquistado.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Puta Amada Salve Salve!!

Hoje, li na Gazeta Mecantil que nosso excelentíssimo presidente da república diz que "A América Latina não pode ser tratado como país de terceiro mundo que não consegue sediar eventos como Pan, Olimpíada e Copa"
Minha crítica não é diretamente ao presidente, mas ao imaginário popular brasileiro apegado a espetacularidades.

Sediar Copa do Mundo, Olimpíada ou Pan é para um país que já resolveu problemas básicos de saúde, educação e sanamento básico ( isso mesmo, xixi e cocô sem esgoto)
Ainda mais que, diferentemente de outros países que sediaram tais competições internacionais, aqui, o capital investido em infra estrutura é quase na sua totalidade, público. Por outro lado , no exemplo recente da copa na Alemanha, a principal fonte de capital investido foi privado.

Assumir a condição de terceiro mundo é um passo para superá-la. Negá-la como o país faz, se auto-proclamando país em desenvolvimento ou emergente é tangenciar os problemas reais.
Caro Presidente, não é sediando estes eventos que mensuramos nossa condição de país sub/desenvolvido. A não ser que, o "olhar superficial estrangeiro" admirando contruções olímpicas e nossa capacidade de realização seja mais importante para categorizar nosso estágio sócio-econômico do que nosso "profundo olhar brasileiro" que sabe muito bem qual é o salário dos professores.

Corroboro com os Titãs :" a gente não quer só comer, a gente quer comer e quer fazer amor", porém esse pan e a disputa pela copa 2014 são putas em que a foda tem saído muito cara.

sábado, 9 de junho de 2007

Conto de Amor

O roteiro para chegar na longínqua casa charmosa fora incrivelmente escrito. A explicação foi uma, a interpretação foi outra, e não sei como o destino traçado foi alcançado. Alguns fenômenos inexplicáveis, conforme aprendi com o amigo Nelson, são chamados pelos matemáticos de coincidência.
O povo que habita a região é de uma verdade universal. Devemos lembrar que somos homem-bicho. Películas de civilidade distanciam da nossa primitividade.
Chegamos à casa, tomamos caldinho de feijão, comemos feijoada, bebemos cerveja de garrafa, sentamos ao lado da lareira, em uma casa “madeirada” pelo grave tom marrom-escuro. Ouvimos doces vinis, comemos bolo de laranja e de rolo com café, Conversamos papos-cabeças e papos engraçados.Convivemos na casa com pessoas “low-profile” que buscavam e conseguiam harmonizar o ambiente. O frio pedia aconchego e cobertores foram providenciados. A natureza corroborava com todo este estado de espírito. A casa é encravada na mata.
Fomos embora felizes por gozar de um raro dia, de amor em grupo!

Universo ou Ciência

Voltando ontem de Vitória para o Rio, encontro um amigo dos tempos de universidade que há muito não via.
Depois de 8 anos distantes, Gilson, felizmente, na essência continua o mesmo. Engraçado e inteligente, bebemos e conversamos, entre boas gargalhadas da aeromoça.
Surpreendo-me quando Gilson diz que há mais ou menos 5 anos a Unicamp não permite venda de bebida alcoólica e nem festa dentro do campus.
A cerveja e as festas são importantes dentro de um espaço de socialização, de trocas, de reconhecimento das diferenças, principalmente para jovens em formação.
Universidade, como o próprio nome já diz, vem de universo que é muito mais do que ciência. A Unicamp, com todo orgulho, foi para mim, um lugar para Aprender como também, para “Desaprender”.
O estrangulamento do subjetivo, a impossibilidade de reflexão vagabunda são sinais de um mundo pragmático que homogeneíza mais os jovens, limitando-os dentro de suas verdades burguesas.
A Unicamp recrudesce ao status de pólo científico. Sua outra parte vital está sendo levada pelo tempo...

terça-feira, 5 de junho de 2007

Obra de Arte

Impossível falar sobre esse Filme sem ser boçal. “Bandido da Luz Vermelha” é uma obra de arte. O máximo que consigo expressar sobre o filme é reles perto do que ele seja.
Peço a todos que assistam a essa obra de arte.
Trilha sonora esplêndida, atores magníficos, câmera pirante, roteiro absurdamente bom, diálogos irrepreenssíveis. Som de uma clareza ímpar.
Esse filme abre novos campos de percepção. Campos do que é cinema, campos do além do certo e do errado, campos imaginários do humano. Não me aproprio do filme pois não consigo tê-lo em mãos. O diretor bebeu na fonte de Orson Wells e Godard.
É uma obra Dialética. Além do irônico.
Os atores sabem o seu papel. Tem um lance de alma entre os personagens e os atores. O filme é de 68. O cinema nacional brasileiro tem motivos suficientes para se orgulhar com este filme. Segundo os atores Paulo Villaça e Hellena Ignez em entrevista posterior ao filme, eles tinham certeza que estavem fazendo um barato além.
Será um filme descoberto pelo próprio brasil e pelo mundo ou será uma relíquia tristemente esquecida.

Mercadinho Verde e Amarelo

O comportamento da seleção tupiniquin de “futebol– mercadoria” se explica nas leituras do bom e velho Karl Marx.

Vi pela tv , hoje, o jogo Brasil x Inglaterra, além de ter assistido aos jogos da copa “in loco” na Alemanha.

Velho Marx, no livro célebre O Capital, comenta sobre o trabalhador na lógica de mercado capitalista:

“Alguém que levou a sua própria pele para o mercado e agora não tem mais nada para esperar, exceto o – curtume.”

A seleção brasileira inserida num contexto de aprofundamento das relações capitalistas de produção em pleno século XXI espelha estes condicionantes dentro das quatro linhas do campo.

Exemplos como Robinho teatralmente fazendo as mesmas caras e bocas depois de perder um gol, rostos artificialmente compenetrados, o estufar do ego diante da explosão da conta bancária, e Ronaldinho Gaúcho sorrindo “seu sorriso franco e puro para um filme de terror” ( aspas roubadas do trecho musical de Raulzito) são situações metabolizadas pelas relações capitalistas marketing – dinheiro – mídia - fama.

O triste é que do outro lado da moeda, o amor, paixão pelo time , a vontade infantil , o instintivo espírito competitivo, elementos originários do Esporte bretão se enfraquecem, e começam a ressoar românticos.

Se o comunismo traria de volta o lado bom da moeda não posso afirmar, mas com certeza não haveria essa falsidade mercadológica que atualmente mais do que arrancar a pele , leva junto a própria alma..

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Japa vai na linha “puta na cama, dama na sociedade.”

Hoje, deu no JB o seguinte título no caderno internacional: “Denúncia de Corrupção leva ministro japonês ao suicídio.”

A primeira reação é aquela , “porra, denúncia no Japão o cara se suicida, aqui tem Renan Calheiros e outros que ficam defendendo o indefensável, o Brasil não tem jeito” e aquelas coisas que ouvimos e repetimos desde que nascemos.

Quando leio a reportagem descubro que o ministro japonês sempre fez sacanagem , já havia sido pego de forma leve e agora o negócio tinha ficado brabo, pois o valor é significativo .

A perda da honra diante da sociedade é um dos maiores motivos para o Japão ter o maior índice de suicídio entre os países desenvolvidos.

O que deve ser separado é o que se faz no privado, do que se mostra em público. O japonês na esfera privada não teve honra nenhuma como não tem o corrupto brasileiro, porém em público o japonês se envergonha a ponto de cometer o suicídio.

Que dupla personalidade hein Japa?

Assalto Divino

Hoje, andando pela marechal floriano (não!, não é a marechal de Santos onde tive e tenho momentos felizes) pela hora do almoço, paro de frente à banca que estampa na capa, de um jornal sensacionalista carioca, o seguinte título acrescido de uma foto:

“ Casa do Padre Marcelo é assaltada e rapinam em torno de R$100.000,00.”
A foto ao lado é do padre, de mãos juntas espalmadas em forma de oração.

Confesso publicamente a blasfêmia: Dei um bom sorriso daqueles “soquinhos” que mexe mais a barriga do que faz barulho.

O sentimento imediato espontâneo logo depois foi substituído pelo sentimento moral de compaixão, “ me coloco no lugar do outro, que merda, 100.000,00 precisa de ralação para chegar lá , perda é sempre foda...”

O sorriso provavelmente veio da foto divina do padre encaixado a um texto de cruel realidade, ou da constatação que ninguém é Santo ou tantas outras coisas inexplicáveis.

Ziraldo ,certa vez, fez uma caricatura do padre esticando seu já proeminente queixo, nariz e orelha. O resultado, na mosca, deu diabo.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Kurt Masur

Um doce urso alemão. O senhor maestro dos seus passados 80 anos , mal de parkinson em uma das mãos, deu um show no Municipal.
Apesar do barulhento público que tardava a concentração em cada peça, o “Alemãozão” junto com a digna OSB fizeram um espetáculo grandioso nessa última sexta-feira (25/05/07).
O grau de intimidade entre o maestro e a orquestra se explica pela sua vigésima quinta apresentação com a OSB. O domínio em cena de Kurt e o pronto retorno dos músicos foi o que se viu. Não poderiam se desconhecidos ali. Kurt Masur , mais do que um pai, um avô, se divertia com a seriedade de uma crianca brincando.
O sopros foram um espetáculo à parte. Não à toa que o simpático Masur homenageou com um leve apontar de dedos dois deles ao final da apresentação.
A última peça de Dvorák foi uma viagem existencial pela vida. Tristeza misturada com alegria, aventura, destemperança foram os sentimentos-ingredientes que elaboraram o alimento da música- alma.
A vida, mais uma vez, imita a arte.

Prova dos Nove

Minha primeira impressão, mas não é mesmo aquela que fica??, foi reativa em relação aos novos quiosques da praia.
Três foram os principais motivos: a imagem asséptica do novo quiosque, a perda da informalidade carioca e o caráter elitista associado ao empreendimento.
Fui, anteriormente , em uma situação atípica, que não me gerou elementos suficientes para julgá-los com segurança.
Hoje fiz um programa que gosto. Ir até o leme de bicicleta, e depois de uma corrida pela areia, fiquei ávido por uma água de coco.
Havia 2 quiosques, o novo e o antigo. No intuito de provar se estaria à vontade naquelas condições de quem correu, está suado e sem camisa, decidi pelo novo
O público era de quem antes não havia se exercitado pela areia, mas frugalmente caminhado pelo calçadão, o que poderia me causar constrangimento.
Porém, fiz a garçonete duas perguntas chaves.:
Quanto é a água de coco?
R$ 2,50, ela me respondeu.
Posso ficar sem camisa?
Pode, tranqüilo.
Fiquei lendo o jornal que havia carregado, sentado em uma cadeira gostosa, diante de uma mesa confortável, de frente para o visual alucinante da praia.
Os quiosques antigos não possuem mesas com esta visão. Surpreendentemente, fiquei mais a vontade no novo quiosque.
Concluo, como sendo uma pessoa difícil de aceitar o novo, porém ao me colocar em cheque, os novos quiosques desmistificaram minha primeira impressão, reatualizando a metamorfose que é o olhar humano .

Humanamente Incorreto

Não estou interessado ao que está vinculado o papel que envolve hoje os canudos em bares, restaurantes e biroscas em geral. Pouco importa se o responsável é a indústria madereira e celulose ou o poder opressor higiênico nesse mundo cada vez mais sem rosto, sem cheiro e sem gosto.
O fato é que aquele maldito artefato atrapalha à beça. Recebe-se o canudo com toda a pompa e circunstância que o desabona de sua elegante informalidade que fora sempre ser apresentado nu.
Além da dificuldade prática de rasgar seu invólucro quando o desejo preemente é que o canudo seja um meio propício para bebermos algo, o papel exerce o poder que o legitima ser melhor hoje do que antigamente pois não é mais um transmissor de doenças. Ora bolas, alguem já foi afetado por algum canudo reutilizado? A boca do outro contamina quando dividirmos os canudos , mas podemos aceitar beijos deliciosamente de um desconhecido.
Essa onda do politicamente correto, ao que parece não é marola, e veio para durar, fazendo da sociedade, um espaço que aparta, segrega e mais desumano para se viver.