terça-feira, 18 de setembro de 2007

Profeta do Amor

No dia 17 de dezembro de 1961 ocorreu um gigantesco incêndio no Circo Norte-americano em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, matando cerca de 500 pessoas. Tal fato, como nos tempos bíblicos, serviu de estopim para o surgimento de um profeta, o Profeta Gentileza que ,se vivo fosse, estaria com 90 anos.
José Datrino era seu nome, caminhoneiro do bairro Guadalupe no Rio de Janeiro. Seis dias após, véspera do Natal, por volta da 13 horas, enquanto descarregava um caminhão, confessou ter ouvido por três vezes uma mensagem divina: deveria abandonar os três caminhões, casa, terrenos e família e ir logo para ao local do incêndio "para ser o consolador de todos os que perderam seus entes queridos". Tomou um dos caminhões, carregou-o com duas pipas de vinho de cem litros e foi a Niterói para cumprir sua missão.
Distribuiu vinho em copinhos de plástico para os familiares e amigos dos entes queridos.Passa a vestir-se com uma bata branca cheia de apliques, com um bastão, um longo estandarte com suas mensagens, encimado por flores para lembrar o jardim do Éden e cata-ventos para arejar as mentes, como dizia. Instalou-se no local do incêndio, aplainou-o, transformando-o num jardim florido. Dormia no caminhão. Por quatro anos consolou a todos que iam ao local chorar de seus mortos dizendo-lhes: "o corpo está morto mas o espírito deles está em Deus".
Depois de quatro anos, percorreu o país, o nordeste e o norte, pregando seus motes "Gentileza" e "Agradecido".

Sua mensagem era de que as pessoas falassem "por gentileza" e não "por favor" e que dissessem "agradecido" em vez de "muito obrigado". A mudança, explica o profeta, é porque ninguém é obrigado a nada e devemos ser gentis uns com os outros, além de nos relacionar por amor e não por favor.
Como todo profeta, Gentileza denuncia e anuncia. Denuncia este mundo, regido "pelo capeta capital que vende tudo e destrói tudo". Um refrão sempre volta, especialmente nas 56 pilastras com inscrições na entrada da rodoviária Novo Rio no Caju: "Gentileza gera gentileza, amor". Anuncia um antídoto à brutalidade de nosso sistema de relações principalmente nas grandes cidades.
Interessante é a sutileza pelo posicionamento que não era escapista e nem tampouco um amor ursinho-pimpão do tipo meus amiguinhos e família são tudo , o resto que se dane. Foram decisões tomadas no "real" baseado na ética da alteridade e não na individualidade.
Desejos, caminhos, forças internas são indivuduais e imanentes a cada ser humano, mas pessoas com essa iluminação são importantes serem lembradas para que ressaltemos em nosso ser a escolha pelo amor ao outro e não pelo ódio. E como dito pelo Velho Sartre "os dois estão dentro da gente, cada um escolhe o seu e deve ser responsável por isso".
Aos que o chamavam de louco, ele respondia: - "Sou maluco para te amar"

2 comentários:

Anônimo disse...

"Lucidez é um acesso de loucura ao contrário" (Mário Prata).

Amigo Breno, se o seu texto fosse um bolo, eu diria que está recheado de deliciosa cerejas, tais como: "amor ursinho-pimpão"; "denuncia e anuncia" e "antídoto à brutalidade de nosso sistema de relações". Recordo-me de ter visto, uma vez, um programa na televisão sobre o Profeta Gentileza. Infelizmente, acredito que tenha sido de madrugada.
Um grande abraço.
Nel

Laura_Diz disse...

Eu conheci Gentileza na rodoviária do Rio, estava sempre por ali. Tinha gde admiração por ele.
Obrigada pelo seu comentário n meu blog.
Volte sempre.
Bj Laura