segunda-feira, 11 de agosto de 2008

TORTURA CHINESA

10 aninhos. Papai, Mamãe e o cinegrafista. Olho nele filhinha! Vem andando, sorrindo, mão na cintura. Dá uma reboladinha, filhinha. Não, não é hora de sentir nada. Vai agora, sente, sinta! Não, não pense. Mexe o cabelo e vem. Repare sempre, atenção ao que fica belo em você. BELO, entendeu? O que é de bom gosto, gostado. Filhinha, um dia você entenderá o que estou dizendo. Você ainda tem um gosto a ser apurado. Você combina estranho. Mamãe só quer seu bem. Não duvide do nosso amor. Requintes são requintes, e só o tempo para lhe mostrar. Você não precisa sofrer para aprender, né? Estilo, filha, estilo, sem estilo você não é nada. Filhos dão um trabalho...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

FLÁVIO

Flávio tinha máu hálito. O que no começo era piadinha de família, virou crônico na adolescência. O ar que emanava da boca de Flávio era horrível. Horrível ainda mais para ele que não se desvencilhava daquele mau cheiro que lhe rondava.
Esperançoso, Flávio fez as tentativas tradicionais: pastas de dentes especiais, listerines, escovação turca, halls , fortes bebidas alcoólicas pela manhã que de nada adiantaram. A fedentina se instalara nas profundezas do seu ser e a ciência não havia criado nada que fosse suficente para eliminá-lo.
Por uma grande tristeza, Flávio foi abatido. Perdeu a fé divina. Se Deus existisse, não seria capaz daquela maldade com ele.
Quando estava conversando com amigos, não havia alma generosa que conseguisse permancer ali , ainda que por um pequeno instante. Era sempre convidado para uma maldita "balinha". Recebido o convite, a ficha caía e o nível da tristeza subia. Ultrapassada a vergonha, Flávio foi a um psicanalista. Monólogo vai, monólogo vem, Dr. Xavier interrompe Flávio e solta a grande sacada:
- Você terá que conviver com isto. É o que você tem de diferente. Alie-se ao inimigo.
Olha que as palavras do Dr. fizeram bem a Flávio. O odor não desapareceu, mas a consciência tranquilizou. Relaxado, acabou conhecendo uma mulher interessante. Sabrina não se incomodava com o hálito de Flávio. Também era portadora do mesmo mal.
Flávio ficou feliz , mas ressabiado com o Dr. Xavica. No fundo, o que queremos é alguém parecido conosco. Nem que seja, no nosso pior.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Coisas que eu Odeio (homenagem ao Fernando e ao Conrado que me conhecem)

Não levem a mal. São coisas que eu odeio mas acabo convivendo. Tem outro jeito?



Quando o público ou algum jornalista pergunta ao artista: Como é o seu processo criativo?
Não se ligou que o "como" não pertence ao cara. Isso é prá crítico responder e não pro artista.
Ah! bem, eu acordo cedo, beijo meu cachorro, tomo café bem quente e vem uns insightss. Porra!!!



Loura gringa no Brasil de sorriso colgate com aquele deslumbramento anglo-saxão:
- This is pretty, pretty, beatifull!! argh!!



Lugar em que os garçons usam touca na cabeça. Qual é a parada? Animalzinho domesticado do dono!!



Gordas branquinhas leitoras assíduas de Código Da Vinci ou Harry Porter.



Pessoas que falam alto ao celular. Pior, que falam "meu querido"!



Aquela que chega com fotos. E como uma nazistinha, joga aquele troço no teu colo e diz como numa sessão de tortura: Essas são as fotos do casamento meu com o Marcos!!



Pessoas que te vêem sem estar sorrindo (sic) e falam: Você está com algum problema? Você está triste? Vai se fuder ô bichinho animado!!



Pessoas que ouvem sua história e logo te cortam para contar uma dela com muito mais emoção pré-fabricada.
Não avisaram a ela que não é competição de quem é mais babaca..



Você vai numa livraria ou sebo comprar um livro e o atendente na maior cara de pau responde:
Esse livro nós vendemos ontem.

Você sempre vendem um dia antes o livro que eu quero. É comigo o problema?



Caixas de som toda fudida no centro com musiquinhas irritantes: Jurandir, vereador para melhorar nosso rio...


Mostras que repetem ad infinituum bossa-nova e Machado de Assis ( típico do Rio).

Deixa os caras descansarem em paz! Já ultrapassou o insuportável esses revivals.



Pessoas que tudo justificam com a maldita resposta: Ah, eu tenho que pagar minhas contas!
Porque você fuma maconha? Fumo, mais pago minhas contas..Ah, porquê você dá a bunda? Ah, porque tenho que pagar minhas contas. Porque você tá nesse emprego de merda que voce sabe que tem corrupção? Ah, Porque tenho que pagar minhas contas..



Você entra no ônibus e o cara puxa assunto de igreja.

Porra ,curte o teu Deus que eu curto o meu ( aliás, já faz tempo que eu não acredito mais nele!!)



Cara que chega em porta de cinema ,teatro ( típico em são paulo) e diz: Gosta de poesia?Gosto, só dos bons ...



Hippie que interrompe tua cerveja e diz: Quer ver meu trabalho?É umas sementes com dente de tubarão.. Cara , eu acho isso nojento...



Pentelhos estudantes que entram no ônibus de mochila nas costas. Não percebe que ocupam todo o espaço, ou a mamãe não ensinou a eles a lição de que não são os donos do mundo!!



O cara que tá fora do seu estado e força o sotaque natural para marcar diferença. (típico de gaúcho). Pior ainda aquele que, pelo contrário, tenta imitar o sotaque local.



Mulheres com tatuagem delicada e não decodificável no pulso. Você pergunta e ela responde. Ah! é cu em persa!Porra que merda!



Abuso da palavra nutre. O shampoo nutre, o creme nutre , o cereal nutre, a bunda da ta mãe nutre.



Homem de boina. Capítulo a parte. Ficam uma hora ano espelho para pôr aquela porra quente cuidadosamente na porra da cabeça. Lembrando Che ou intelectais frances. Dizem que o Che perdeu a boina na batalha de Miraflores. Pior ainda são os de sapatos coloridos.



Pessoas que tudo colocam em qualquer caso, uma gravidade, um peso: Você não sabe o que aconteceu?
Sei, tua mãe deu a bunda pro teu pai e saiu esse imbecil na minha frente...



Ana Carolina e Ivete Sangalo foram deixadas para o final por pura falta de memória ...

INFERNO

Desceu ao inferno. Permancendo por várias horas. Vários dias.
Sua vontade era estar ali por uma eternidade. Fraco subiu para um pouco de água.
Deu um gole, dois goles. Bebeu litros, metrós cúbicos. Voltou. Confortavelmente.
Lá embaixo o porrete o esperava. Foi ficando cansado, suando frio.
Lugar escuro, olhos fechados. Sem música.
A uma operação cirúrgica foi submetido. Resultado improvável.
Choque anafilático. Dentro do esperado.
Sua culpa de infância não enchia a boca do pote.
A cada pouco que morria despertava de si mesmo.
A cada minuto que passava, sua promessa calada estava sendo cumprida.