segunda-feira, 28 de julho de 2008

NATUREZA MORTA

A cozinha pode ser vista. Daquele restaurante cheio de frescura a cozinha se abre...uma janela de 50x50 centímetros. Por esse buraco vê-se três cozinheiras. Azulejo branco e panela preta. Vapor quente da mistura de gordura com doce. Folhas, muitas folhas. Os cabelos estão protegidos por uma tela. Todas no padrão limpeza. Avental branco e tela na cabeça. Enclausuradas na cozinha. Acostumadas aos mínimos detalhes daquele cubículo 2x2 metros. Quanto mais limpas, mais elogios da chefe. Como gostam desse elogio. Olham pela janela, clientes cheios de pose. São pavões assustadores. Limpar o polvo é tarefa melhor de fazer. Sem licença, a porta abre. São as ordens da chefe. Os corpos e gestos estão disciplinados. Prontos a atendê-la. Conformadas a um trabalho que paga 500 no fim do mês. Aquela prisão fedida paga o aluguel da casa. Lá no restaurante, som ambiente. Dentro do chiqueiro, sorriem alegres. Estão trabalhando. Na parede do fogão, o quadro de uma melancia cortada ao meio. Êta vida de bosta.

terça-feira, 22 de julho de 2008

PAUSA PARA ACREDITAR

Como contornar, delinear palavras onde não há certezas?
Como escolher uma a outra, em um lugar cuja incerteza habita impiedosamente?
Posso ver, sentir, cheirar e ouvir. Disto estou certo.
Sonhos, vontades e desejos. Ter a mim mais que eu tenho. Como?
Como superar a vergonha do ridículo?
Como não me confortar no ridículo de mim mesmo?
Recebo música, arte, como um egoísta, recebo.
Agradeço a vida que levo. É tão pouco?
Momentos, alguns que subelevo, me emociono,
Outros, descanso a alma. Não entrego, homem sem certeza.
Agarro-me ao excesso, agarro-me ao vazio. A cada instante, algo de mim prevalece.
Até um ponto que aconteça a palavra, ou a aceitação resignada...da morte?

sábado, 5 de julho de 2008

VELHICE

Dia 04de julho de 2008, puxa vida, achei que não ia viver por muito tempo. Tem remédio para tudo o que é dor. Tô velho e sem força. Os remédios me aliviam. São uns santos remédios para aplacar o peso da idade. Existem até pílulas que ajudam a rejuvenescer. O que por um lado é bom, pois vivo com menos dor que os velhos sentiam . Porém esse prolongamento da idade faz sentido para quem? Viver mais é necessariamente melhor? Será que não estamos em um circo armado em que todos somos cobaias? Ah, acho que tô velho demais para essas questões. Tenho um medo danado da morte. Vou viver como posso. Bem, como posso. Essas são as minhas fichas, Alea jacta est...