segunda-feira, 28 de julho de 2008
NATUREZA MORTA
A cozinha pode ser vista. Daquele restaurante cheio de frescura a cozinha se abre...uma janela de 50x50 centímetros. Por esse buraco vê-se três cozinheiras. Azulejo branco e panela preta. Vapor quente da mistura de gordura com doce. Folhas, muitas folhas. Os cabelos estão protegidos por uma tela. Todas no padrão limpeza. Avental branco e tela na cabeça. Enclausuradas na cozinha. Acostumadas aos mínimos detalhes daquele cubículo 2x2 metros. Quanto mais limpas, mais elogios da chefe. Como gostam desse elogio. Olham pela janela, clientes cheios de pose. São pavões assustadores. Limpar o polvo é tarefa melhor de fazer. Sem licença, a porta abre. São as ordens da chefe. Os corpos e gestos estão disciplinados. Prontos a atendê-la. Conformadas a um trabalho que paga 500 no fim do mês. Aquela prisão fedida paga o aluguel da casa. Lá no restaurante, som ambiente. Dentro do chiqueiro, sorriem alegres. Estão trabalhando. Na parede do fogão, o quadro de uma melancia cortada ao meio. Êta vida de bosta.
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