Sem saber se gostava de criança, Rosália virou babá. Marta, sua Dona, jamais ficou longe de casa só com a criança. Levava sempre junto seu “anjo da guarda”. Foi assim que apelidou Rosália. Que mais parece um mancebo. De tantas bolsas, apetrechos e criança penduradas nela.
Rosália veste uniforme. De um alvo branco. Passa limpeza, proteção pro bebê. Passa afeto, carinho e dengo. Facilita a identificação. Formam-se grupos de branco na praça próximo à casa. Conversam, tagarelam, passa o tempo. Trabalho feito, criança prá casa.
Aos domingos, Rosália tem conhecido os grandes restaurantes da cidade. Fica impressionada com o preço do suco de laranja. Nunca o cardápio foi entregue em mãos. Vai direto para o casal que sugere à Rosália a mesma deliciosa comidinha da criança. Alberto e Marta podem conversar tranquilamente enquanto Rosália cuida da criança. Isso sem as irritações costumeiras de Alberto que odeia, como homem bem educado que é, ser interrompido. Choro de criança não respeita o desenvolver de suas idéias. Antes da sobremesa é hora do casal brincar com a criança. Este ínterim é um achado. Estão bem alimentados. São uns 7 minutinhos saborosos que eles podem desfilar com a criança, fazer as gracinhas que a babá não é jeitosa para aprender. Esse tempinho virou padrão nos almoços de domingo. Chega a sobremesa e Rosália pega a criança de volta para o desfrute frugal do casal. Marta costuma brincar com Rosália dizendo que ela não come doce porquê quer emagrecer ainda mais. Rosália, macérrima por carência, não por aparência, sorri para dona dizendo que só gosta de um tipo de doce: rapadura. A Dona, sempre última voz, rebate: Vocês sempre gostam de um só tipo. São cheias de manias.
Rosália recebe de Marta muitos elogios quando juntas analisam o trabalho de outras babás. Só umas duas vezes, outras babás foram elogiadas à sua frente. Dessas, Rosália nunca esqueceu.
Viajar com a babá é divertido, mas esquisito. Despacham malas, bagagens, e Rosália é sempre esquecida por último. A criança também. Que não desgruda dela. Logo a babá que nem amor sente pelo filho. Estranho esse mundo, muito estranho.
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
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