domingo, 6 de janeiro de 2008

Esquina das mudanças sem mudanças

Lúcio gostava sempre de uma esquina que nunca soubera o nome.
Ela ficava intacta em seus sonhos. Acordado, tinha o hábito de vigiar pequenas mudanças que a predileta sofria. Primeiro foi a mercearia, trocada por uma locadora que hoje é depósito de material plástico. Do outro lado da rua, felizmente, o bar permanecia o mesmo, apesar das mudanças de humor do dono.
Um sinal de trânsito que nunca houve, foi colocado, aumentando o barulho no reduzir e acelerar dos carros.
Cerveja gelada com óleo diesel era o que alguns frequentadores mais assíduos diziam para o Seu Messias, dono do bar.
Apesar de seu temperamento oscilante, Messias era um homem de idéias fixas. A mais conhecida era seu desejo de destruir o sinal de trânsito. Aquele sinal simbolizava para ele, o controle da mulher, reclamação dos vizinhos , e até mesmo a burocracia de "fechar o caixa". Sentia que destruindo o sinal estaria resolvendo seus problemas.
Em uma madrugada tranquila de segunda -feira, após fechar o bar, Messias serrou o mastro que sustentava o sinal causando um imenso estrondo.
Ignorando o acender de luzes da vizinhança, saiu calmamente assobiando, sem esconder a responsabilidade do ato, pois era barato perto do peso que tirava das costas.
No dia seguinte, abriu o bar, o mastro deitado na calçada e um técnico informando que apesar da barbaridade cometida, o sinal não iria ser reposto, e que em seu lugar seria substituído por lombadas eletrônicas.
Regressando à velha esquina, Lúcio vê mudanças, como a nova lombada. Irritado, chega ao Seu Messias que o tranquiliza:
-Meu filho, Essa lombada trouxe-me a paz que eu sempre quis.
Lúcio recebe um fluxo de bem- estar e começa aceitar mudanças sem resignação.
Messias, logo, logo, achará novo problema na azeitona de sua empada.

2 comentários:

romulo de almeida portella disse...

este personagen, seu Messias. ele é um boçal.que controle narrativo você conseguiu quanto à atitude dele.caracterizou muito bem. sinto falta, não "leio" bem o narrador...ele não é muito dado, claro... tem um caráter esparso? quer dizer: passa ali e nota, é só? claro que o conto é o personagem mas e a atitude, e mais o quê, não sei, do narrador... ele é esparso?

romulo de almeida portella disse...

mas o conto não é bem sobre o Messias somente... reli, e agora percebo melhor o Lúcio...