A palavra, vazia, hoje em dia, não faz sentido.
Jogada de cá pra lá, de lá pra cá, virou rotina obrigatória.
Ninguém consegue suprimí-la,
É que a angústia do silêncio angustia.
O tempo passa, as palavras correm solta.
Sem peso, sem cheiro, cheias de estilo pra agradar,
Palavras ditas pelo sabor do momento
Palavras sem compromisso do dono
Palavras a beira de um abismo em extinção
Correr o risco pela palavra é antiquado.
Palavras-brisas, leves sem a substância própria que lhe formou.
Palavras café descafeínado.
Palavras para não ofender. Palavras para não doer.
Palavras para divertir. Taí, palavras entretenimento.
Palavras que não toquem em ponto desconfortável e despertem para um novo patamar. Palavras cobertor, palavras conforto.
Palavras que evitem o conflito. Palavras alívio.
Palavras não são mais a seiva, agora o barato bobo são as palavras flor.
Palavras multiplicidade.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
domingo, 24 de fevereiro de 2008
Sonho Acordado
Saber-se fragmentado sem perder espinha dorsal,
Saber-se mal amado sem perder elegância formal,
Saber-se imbecil sem perder luz no final,
Saber-se menino sem perder a seriedade da dor,
Saber-se calado sem perder a opinião que lhe dou,
Saber-se mais velho sem perder a ilusão da cor,
Saber-se gigante sem perder a condição do amor,
E aí chorar baixinho para se ouvir melhor,
Chorar no chuveiro para secar a voz,
Chorar tanto, até ficar só,
Para enfim, dormir como ferido em paz,
Dormir sem sonhar, que sonho ficou para trás.
Saber-se mal amado sem perder elegância formal,
Saber-se imbecil sem perder luz no final,
Saber-se menino sem perder a seriedade da dor,
Saber-se calado sem perder a opinião que lhe dou,
Saber-se mais velho sem perder a ilusão da cor,
Saber-se gigante sem perder a condição do amor,
E aí chorar baixinho para se ouvir melhor,
Chorar no chuveiro para secar a voz,
Chorar tanto, até ficar só,
Para enfim, dormir como ferido em paz,
Dormir sem sonhar, que sonho ficou para trás.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Cuspida Seca
Você fica escrevendo, para acreditar no que escreve. Critica querendo acreditar na sua crítica. No fundo, se conhece bem. Bem menos do que gostaria. Você compreende e sabe que isso não é o bastante. Sonha porquê só assim dá prá viver. Você agora não faz literatura e avisa. Você agora não faz forma sem saber. Você faz tudo por você. Acha isso o máximo. Você quer se encontrar. E briga por isso sempre. Muitas vezes enrola um pouco a vida pois tomar decisão não é fácil. A inércia do que já está, tem sua força reconhecida até na física (um pouco de literatura nesta cuspida seca).
Você é ou são personagens. Você sabe as reais que pode entrar. Sabe o valor da maconha, do álcool e da aparente normalidade. A maconha ajuda a não esquecermos nossos medos. A normalidade de não se esquecer e o álcool de acreditar que vale a pena viver.
Você acredita no seu egoísmo. E busca o belo a todo custo. Você quer ser eterno. E disso não abre mão. Você não acredita em morrer em paz. Acredita na dor.
Se emputece com sua covardia. Essa covardia não é a que todo mundo diz. Ela é só sua. Você não entende que o mundo é que manda e não você. Você é vaidoso e precisa de aplausos. As dores para você sempre te ajudaram. Dores que te colocam no eixo.
Você se perde na musicalidade das palavras. Se perde também no silêncio. Você reconhece seu ego na aprovação do outro. Confia como um cego no entendimento comum sobre as coisas. Você não sabe de quê lado está o bem e o mal. Você não sabe de quê lado está. Você não quer perder nunca. Você quer ser o sujeito.
Ainda que haja tudo isso, tenta, como poucos, acertar e não deixa de amar e valorizar a vida em sua dimensão mais banal.
Você é ou são personagens. Você sabe as reais que pode entrar. Sabe o valor da maconha, do álcool e da aparente normalidade. A maconha ajuda a não esquecermos nossos medos. A normalidade de não se esquecer e o álcool de acreditar que vale a pena viver.
Você acredita no seu egoísmo. E busca o belo a todo custo. Você quer ser eterno. E disso não abre mão. Você não acredita em morrer em paz. Acredita na dor.
Se emputece com sua covardia. Essa covardia não é a que todo mundo diz. Ela é só sua. Você não entende que o mundo é que manda e não você. Você é vaidoso e precisa de aplausos. As dores para você sempre te ajudaram. Dores que te colocam no eixo.
Você se perde na musicalidade das palavras. Se perde também no silêncio. Você reconhece seu ego na aprovação do outro. Confia como um cego no entendimento comum sobre as coisas. Você não sabe de quê lado está o bem e o mal. Você não sabe de quê lado está. Você não quer perder nunca. Você quer ser o sujeito.
Ainda que haja tudo isso, tenta, como poucos, acertar e não deixa de amar e valorizar a vida em sua dimensão mais banal.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Juizo Final
-Já disse que mal não se corta pela raiz, mas se poda dia a dia com dedicação e saco!
Com essa frase, Aristides se despediu da babá que insistentemente reclamava da traquinagens da filha dele.
Pegou seu carro e foi para o trabalho depois de um almoço em casa cheio de turbulências.
O negócio é que do outro lado da cidade, Joninhas não queria nem saber. Tinha acabado de acordar. O barraco parecia se derreter pelo sol e hoje não podia ter folga. Era dia de ser malvado e garantir o adianto.
A tarde de Aristides foi regada a muito carimbo, algumas ordens, sorrisos forçados e cafés cheios de adoçante.
A de Joninhas, foi comer carambolas embaixo da árvore, pendurar uma cerveja na birosca do Edgar e esperar Julinha para ver o pôr-do-sol já armando qual seria o barato da noite.
De noite ,Aristides pega filha e a leva para jantar. Depois de muita comida ,bebida e sobremesa, já empanturrados, pega a chave do carro com o segurança e parte para seu doce lar.
Porém não imaginava que Joninhas estava no seu caminho. O menor, ao lado de Julinha dispara três tiros fatais em Aristides quando esse chegava no portão de sua casa. A filha, berrando , foi largada no portão e Joninhas partiu assustado com aquela máquina para algum desmanche da madrugada.
Com essa frase, Aristides se despediu da babá que insistentemente reclamava da traquinagens da filha dele.
Pegou seu carro e foi para o trabalho depois de um almoço em casa cheio de turbulências.
O negócio é que do outro lado da cidade, Joninhas não queria nem saber. Tinha acabado de acordar. O barraco parecia se derreter pelo sol e hoje não podia ter folga. Era dia de ser malvado e garantir o adianto.
A tarde de Aristides foi regada a muito carimbo, algumas ordens, sorrisos forçados e cafés cheios de adoçante.
A de Joninhas, foi comer carambolas embaixo da árvore, pendurar uma cerveja na birosca do Edgar e esperar Julinha para ver o pôr-do-sol já armando qual seria o barato da noite.
De noite ,Aristides pega filha e a leva para jantar. Depois de muita comida ,bebida e sobremesa, já empanturrados, pega a chave do carro com o segurança e parte para seu doce lar.
Porém não imaginava que Joninhas estava no seu caminho. O menor, ao lado de Julinha dispara três tiros fatais em Aristides quando esse chegava no portão de sua casa. A filha, berrando , foi largada no portão e Joninhas partiu assustado com aquela máquina para algum desmanche da madrugada.
domingo, 17 de fevereiro de 2008
Arrumação
Ela estava no metrô. Olhando para porta de saída, essa mulher frágil, negra e grávida, de segunda a sábado trabalha de faxineira. Um repórter lhe pergunta o porquê dela se vestir com primor e cuidado admirável.
- Eu me arrumo, pois é aí que eu me seguro. Se não me arrumo nada faz sentido. Só quem tem o mínimo não se preocupa em se arrumar.
A cada bofetada da vida eu respondo com meus brincos, a cada humilhação que recebo devolvo com minha reluzente sandália. Ninguém segura meu perfume. Ele exala e me liberta.
Eu me arrumo pelos meus filhos e para esse que vem vindo. Eu me arrumo por dignidade.
Nada da vida me dói. É assim que eu me visto.
- Eu me arrumo, pois é aí que eu me seguro. Se não me arrumo nada faz sentido. Só quem tem o mínimo não se preocupa em se arrumar.
A cada bofetada da vida eu respondo com meus brincos, a cada humilhação que recebo devolvo com minha reluzente sandália. Ninguém segura meu perfume. Ele exala e me liberta.
Eu me arrumo pelos meus filhos e para esse que vem vindo. Eu me arrumo por dignidade.
Nada da vida me dói. É assim que eu me visto.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
TUBO
Seis da tarde. O noticiário televisivo despenca casos de violência ocorridos em várias partes da cidade. Seis pessoas sentadas não piscam, estão todos com seus corpos imersos na violência produzida pelo tubo. Mesas apontam como um canhão para o tubo.
Em uma mesa mais afastada, um casal divaga assuntos prosaicos.
As seis pessoas se impressionam com o roubo a banco do outro lado da cidade. Olham para o tubo. O tubo assusta e não mente. O casal da mesa mais afastada papeia sobre a diva Marylin Monroe. Um beijo de cumplicidade. Seis pessoas estão entubadas recebendo notícias violentas. Sentem o impacto das notícias espetaculares, ficam abaladas. Não conversam, de vez em quando soltam no ar um "filho da puta". São receptores das notícias geradas pelo tubo. O casal da mesa mais afastada lembra de como a vida tem seus momentos tristes e felizes. Buscam perguntas e respostas, vão atrás. A notícia violenta termina, os homens-receptores relaxam pois é a hora de ver os gols do fim-de-semana. O Tubo não falha.
Em uma mesa mais afastada, um casal divaga assuntos prosaicos.
As seis pessoas se impressionam com o roubo a banco do outro lado da cidade. Olham para o tubo. O tubo assusta e não mente. O casal da mesa mais afastada papeia sobre a diva Marylin Monroe. Um beijo de cumplicidade. Seis pessoas estão entubadas recebendo notícias violentas. Sentem o impacto das notícias espetaculares, ficam abaladas. Não conversam, de vez em quando soltam no ar um "filho da puta". São receptores das notícias geradas pelo tubo. O casal da mesa mais afastada lembra de como a vida tem seus momentos tristes e felizes. Buscam perguntas e respostas, vão atrás. A notícia violenta termina, os homens-receptores relaxam pois é a hora de ver os gols do fim-de-semana. O Tubo não falha.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Estética e Amizade parte I
Amizade é aquilo que sinto em boas conversas na mesa de bar.
Variando o papo entre amor, dor, vida, sociedade, cinema, ciência, o amigo completa o que me falta. O silêncio consentido nos acalma. A cerveja dividida nos afaga. A discordância do amigo excita e nos faz repensar.
Neste clima ouvi do ótimo amigo Rômulo uma definição de estética a partir de suas leituras do século dezenove, como a "forma que você sente".
Portanto, mesa de bar com amigo é uma solução estética que gosto. Mas não é qualquer bar, estou bem nos botecos em que cerveja de garrafa é vendida, o bar é extensão da casa, com mesas e cadeiras para poder beber, conversar e viajar.
É bom conhecer a estética própria que nos potencializa como ser humano. Não sendo a solução estética própria, estaremos pela metade e portanto nossa potência humana não será exercida plenamente.
Se estou em uma choperia não é uma solução estética que me agrada. A idéia individual do chopp, o garçom em uma sede de enfiar mais chopps goela abaixo, o sentimento de profissionalismo me incomoda. Em compensação o Elite bar em Maria das Graças...Porém para muitos, a choperia se encaixa perfeitamente, talvez por outras questões estéticas como o ambiente "clean", pessoas "bonitas" (sic)...
A estética possui um caráter pessoal, a forma que cada um se assujeita (dei uma de Guimarães Rosa) no mundo , faz com que nos identifiquemos com determinado olhar. Portanto a forma estética concretizada no Elite bar que me agrada deve-se aos valores constituídos ali que me fazem sentir bem, os quais seriam: o olhar natiural das pessoas sem pose, a idéia solidária da cerveja, a possibilidade de sentar na calçada e papear, a sinceridade do subúrbio, a paixão pelo popular.
Nesse vagar, vamos construindo concepções estéticas em nossas vidas. Mais do que o boteco , cada um possui no seu âmago uma estética para casa , para mulher, etc..
Inteireza potente é aderir o olhar estético pessoal com a realidade cotidiana.
Este assunto deveria ser mais popularizado. Como disse mais ou menos assim, a formidável Clarice Lispector: " muitas vezes compreendemos uma palavra que até então não conhecíamos seu significado e a partir deste momento novas visões de mundo são adicionadas, transformando as visões já existentes".
Variando o papo entre amor, dor, vida, sociedade, cinema, ciência, o amigo completa o que me falta. O silêncio consentido nos acalma. A cerveja dividida nos afaga. A discordância do amigo excita e nos faz repensar.
Neste clima ouvi do ótimo amigo Rômulo uma definição de estética a partir de suas leituras do século dezenove, como a "forma que você sente".
Portanto, mesa de bar com amigo é uma solução estética que gosto. Mas não é qualquer bar, estou bem nos botecos em que cerveja de garrafa é vendida, o bar é extensão da casa, com mesas e cadeiras para poder beber, conversar e viajar.
É bom conhecer a estética própria que nos potencializa como ser humano. Não sendo a solução estética própria, estaremos pela metade e portanto nossa potência humana não será exercida plenamente.
Se estou em uma choperia não é uma solução estética que me agrada. A idéia individual do chopp, o garçom em uma sede de enfiar mais chopps goela abaixo, o sentimento de profissionalismo me incomoda. Em compensação o Elite bar em Maria das Graças...Porém para muitos, a choperia se encaixa perfeitamente, talvez por outras questões estéticas como o ambiente "clean", pessoas "bonitas" (sic)...
A estética possui um caráter pessoal, a forma que cada um se assujeita (dei uma de Guimarães Rosa) no mundo , faz com que nos identifiquemos com determinado olhar. Portanto a forma estética concretizada no Elite bar que me agrada deve-se aos valores constituídos ali que me fazem sentir bem, os quais seriam: o olhar natiural das pessoas sem pose, a idéia solidária da cerveja, a possibilidade de sentar na calçada e papear, a sinceridade do subúrbio, a paixão pelo popular.
Nesse vagar, vamos construindo concepções estéticas em nossas vidas. Mais do que o boteco , cada um possui no seu âmago uma estética para casa , para mulher, etc..
Inteireza potente é aderir o olhar estético pessoal com a realidade cotidiana.
Este assunto deveria ser mais popularizado. Como disse mais ou menos assim, a formidável Clarice Lispector: " muitas vezes compreendemos uma palavra que até então não conhecíamos seu significado e a partir deste momento novas visões de mundo são adicionadas, transformando as visões já existentes".
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Inebriado
Ela vem com os filhos. Seus filhos são meus filhos. Mas para eles, não sou seu pai. Eles têm seus pais. Ela me ama. Nos conhecemos e foi muito forte. Decidimos viver juntos no primeiro mês de encontro. Os amigos pediram cautela. Eles querem o nosso melhor. Ela apóia meus sonhos. Eu apóio os dela. Ela sabe quem eu sou . Eu sei quem é ela . E isso nos une. Nos faz querer estar próximos. Ela topa mudanças. Topa porquê acredita em mim. Sabemos que vida é para ser vivida no dia-a-dia. Não queremos trair nossos valores. Nem buscar alívio através da mentira. Fazemos festa por jantar arroz com ovo frito. Não precisamos ir a Paris de avião. A expectativa por uma viagem de ônibus para ilha do mel é a nossa vida. A felicidade está dentro da gente.
A gente é assim. Não é o caminho que o mundo caminha. Mas é o nosso. E isso que importa.Ela acredita na simplicidade e no amor. Eu acredito nela. Ela faz o que acredita. Paga um alto preço por isso. Mas nunca abaixa a cabeça. Por essas e outras , é a minha mulher. A mulher que eu amo.
A gente é assim. Não é o caminho que o mundo caminha. Mas é o nosso. E isso que importa.Ela acredita na simplicidade e no amor. Eu acredito nela. Ela faz o que acredita. Paga um alto preço por isso. Mas nunca abaixa a cabeça. Por essas e outras , é a minha mulher. A mulher que eu amo.
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