domingo, 17 de fevereiro de 2008

Arrumação

Ela estava no metrô. Olhando para porta de saída, essa mulher frágil, negra e grávida, de segunda a sábado trabalha de faxineira. Um repórter lhe pergunta o porquê dela se vestir com primor e cuidado admirável.
- Eu me arrumo, pois é aí que eu me seguro. Se não me arrumo nada faz sentido. Só quem tem o mínimo não se preocupa em se arrumar.
A cada bofetada da vida eu respondo com meus brincos, a cada humilhação que recebo devolvo com minha reluzente sandália. Ninguém segura meu perfume. Ele exala e me liberta.
Eu me arrumo pelos meus filhos e para esse que vem vindo. Eu me arrumo por dignidade.
Nada da vida me dói. É assim que eu me visto.

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