terça-feira, 1 de abril de 2008

ALVINHO

Álvaro é garçom do Café Empório, uma cafeteria cheia de frescura. Usa um avental preto escrito no centro em dourado: "Golden". No cabelo, o gel faz um pequeno topete na cabeça achatada. Bikers desfilam suas máquinas parando para um café-da-manhã. Estão ornamentados de capacetes prateados, roupas, joelheiras e sapatos coloridos. Para Alvinho, são seres extra-terrestres despencando de outro planeta para refeição matutina.
Não foi dado a Álvaro a possibilidade de ser criativo. Seus olhos verdes, longínquos, deixaram há muito tempo de sonhar. O máximo de ousadia é algum gracejo que repercuta em maior consumo do cliente. O chefe de Álvaro mede cada gesto do empregado. Qualquer manifestação mais brusca de Alvinho é rechaçado na surdina pelo chefe com um "achei que você tinha melhorado!". Há uma energia criadora contida no pequeno espaço que trabalha.
Naquele palco, Álvaro tem que falar baixo, pausado, em harmonia com o chorinho suave que ecoa da pequena caixa de som.
Para os amigos, no fim-de-semana, conta cheio de orgulho que só atende gente grã-fina e tem aprendido muito com a convivência.
Na segunda de manhã, vai ao trabalho "puto da vida", por representar mais uma semana - o teatro do absurdo.

Um comentário:

Fernanda disse...

Olá,

Achei seu blog e já to há um tempo pra escrever, mas na correria do dia a dia já viu né?! Por onde anda? Volta e meia vejo uma notícia sobre Plínio Marcos e lembro de você, como está o documentário?

Bjs,

Fernanda.